IDENTIDADE
Van Gogh - Auto-Retrato Uma clássica representação de i d e n t i d a d e |
Cômico.
Um dia nos cansamos de nós. Porque puxamos na
marra conosco uma caixa cheia de problemas e aflições para onde quer a vida
nos leve. São inúmeras camadas e mais camadas de lençóis para agasalhar os
erros. São tantas manias despercebidas que nos fazem o momo da festa. Quantos
costumes geram abismos entre pessoas e entre pessoas e Deus? O orgulho e a
vaidade tem cada um para si com o seu e para com os outros o silêncio
esmagador. Que valor assume aqueles largos sorrisos cheios de malícia e inveja,
afinal? Aliás, por que revelar tais coisas se o desprezo sempre vence?
Engraçado.
Uma
alegoria de falsas bem feitorias é construída cotidianamente para disfarçar o
castelo que já vai pelo monte desabando. Ah moça, deixe de mentira, saia do
automático, se revele por inteiro e se molde com cuidado. Por que esse
sentimento odioso? E suas brigas diárias com seus pais? Quando as chaves da
amizade entre irmãos se unirá novamente? O que você faz com esse vazio que te
amarra às profundezas da depressão? Você posta, você caminha com pressa, se
nega frente ao espelho e chora no banho. Segue frases prontas, pois prefere não
raciocinar. Se mostra forte para não se deparar com aquela velha paixão mal
resolvida. Se esquiva da felicidade, se esquiva da virtude, se esquiva de
viver. Corre como uma criança pelos metros quadrados do quarto e desfila
perigosamente pelas avenidas da cidade.
Uma
vez que a grande rocha desce morro abaixo, carrega consigo todas as máscaras.
As fantasias, os disfarces. Todas as fotografias, os pequenos vídeos de ângulos
calculados, seus status e seus posts. Fica despida. Seminua perante aqueles que
te assistiam. Olhares afiados te encaram numa resposta de vergonha, dor,
desespero e desonra. Mas moça, você
continua aí, enfiada num túmulo de fingimento. Amor nenhum é perfeito, como
nenhuma relação entre seres ou qualquer trabalho que não nos cause o estresse
habitual. O que você espera, por fim?
O
mesmo ritmo, o mesmo horário, o mesmo sacrifício. Todos as manhãs, todas as
noites, o tempo todo. Você se enche de si. Você se arrepende até de existir.
Deseja ter nascido em lugares diferentes, em outras culturas e em outros
períodos. No entanto, você se entulhou de dissimular e encobrir sua
personalidade. Está estufada de gargalhar demasiadamente. Empacada nas metas. Nos
projetos iniciados e nunca findados. Nos empecilhos. Na postergação. Em
negligenciar-se consigo, com sua mente e seu espírito. Se descuidou de seguir a
trilha que te puseram a andar. Pedras e paus, paus e pedras. Achou, então, por melhor,
encapar o rosto e cortar caminho.
Vem se alimentando de quê? Trazendo desculpas
de onde? Justificando recaídas por qual fraqueza? E no deserto da solidão, rosa
alguma, raposa alguma, vivência alguma te encontra. Que sorte, moça! Deve ser
tudo dizendo para você se reinventar. Parar de chorar, de se lamentar e tapar o
sol com a peneira. Pra onde correu e se escondeu sua fé? Seus princípios? Se
restabeleça. Sê forte!
Sua
voz cansada que esvoaça essas tristes mensagens chegam aos meus ouvidos. O que
une nossas distâncias são nossas dores que se saram. Se anulemos, então. Coloque
isso de lado. Encontre-se. Desafios são essenciais e triunfar sobre eles nos
fazem mais fortes e preparados para as alegrias vindouras. Queime essas ilusões
e faça de si a metamorfose ambulante. Se torne aquela que será conhecida pela
competência e pela persistência. Que sua alma seja tocada pela beleza e energia
daquilo que você acredita. E continue acreditando. Não sinta-se sozinha. Mas
não se finja. Não se esconda. Não crie barreiras e muros impossíveis de serem quebrados
e revelados. Seja você.
Aprendi
e experimentei por meio de conversas e experiências alheias uma estrada calma e
sutil de peregrinar. Eu me permito viajar diariamente pelos mais remotos ares
do mundo. Por vezes, me exalto em desejar ir além do mar e da nossa protetora
atmosfera. Num circuito veloz e as escuras eu fecho os olhos e suspiro. Eu
consigo ser uma feliz mortal com os dias contados!
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