segunda-feira, 28 de março de 2016

IDENTIDADE





Van Gogh - Auto-Retrato 
Uma clássica representação de   i d e n t i d a d e



               Cômico. Um dia nos cansamos de nós. Porque puxamos na marra conosco uma caixa cheia de problemas e aflições para onde quer a vida nos leve. São inúmeras camadas e mais camadas de lençóis para agasalhar os erros. São tantas manias despercebidas que nos fazem o momo da festa. Quantos costumes geram abismos entre pessoas e entre pessoas e Deus? O orgulho e a vaidade tem cada um para si com o seu e para com os outros o silêncio esmagador. Que valor assume aqueles largos sorrisos cheios de malícia e inveja, afinal? Aliás, por que revelar tais coisas se o desprezo sempre vence? Engraçado.
               Uma alegoria de falsas bem feitorias é construída cotidianamente para disfarçar o castelo que já vai pelo monte desabando. Ah moça, deixe de mentira, saia do automático, se revele por inteiro e se molde com cuidado. Por que esse sentimento odioso? E suas brigas diárias com seus pais? Quando as chaves da amizade entre irmãos se unirá novamente? O que você faz com esse vazio que te amarra às profundezas da depressão? Você posta, você caminha com pressa, se nega frente ao espelho e chora no banho. Segue frases prontas, pois prefere não raciocinar. Se mostra forte para não se deparar com aquela velha paixão mal resolvida. Se esquiva da felicidade, se esquiva da virtude, se esquiva de viver. Corre como uma criança pelos metros quadrados do quarto e desfila perigosamente pelas avenidas da cidade.
               Uma vez que a grande rocha desce morro abaixo, carrega consigo todas as máscaras. As fantasias, os disfarces. Todas as fotografias, os pequenos vídeos de ângulos calculados, seus status e seus posts. Fica despida. Seminua perante aqueles que te assistiam. Olhares afiados te encaram numa resposta de vergonha, dor, desespero e desonra.  Mas moça, você continua aí, enfiada num túmulo de fingimento. Amor nenhum é perfeito, como nenhuma relação entre seres ou qualquer trabalho que não nos cause o estresse habitual. O que você espera, por fim?
               O mesmo ritmo, o mesmo horário, o mesmo sacrifício. Todos as manhãs, todas as noites, o tempo todo. Você se enche de si. Você se arrepende até de existir. Deseja ter nascido em lugares diferentes, em outras culturas e em outros períodos. No entanto, você se entulhou de dissimular e encobrir sua personalidade. Está estufada de gargalhar demasiadamente. Empacada nas metas. Nos projetos iniciados e nunca findados. Nos empecilhos. Na postergação. Em negligenciar-se consigo, com sua mente e seu espírito. Se descuidou de seguir a trilha que te puseram a andar. Pedras e paus, paus e pedras. Achou, então, por melhor, encapar o rosto e cortar caminho.
                Vem se alimentando de quê? Trazendo desculpas de onde? Justificando recaídas por qual fraqueza? E no deserto da solidão, rosa alguma, raposa alguma, vivência alguma te encontra. Que sorte, moça! Deve ser tudo dizendo para você se reinventar. Parar de chorar, de se lamentar e tapar o sol com a peneira. Pra onde correu e se escondeu sua fé? Seus princípios? Se restabeleça. Sê forte!
               Sua voz cansada que esvoaça essas tristes mensagens chegam aos meus ouvidos. O que une nossas distâncias são nossas dores que se saram. Se anulemos, então. Coloque isso de lado. Encontre-se. Desafios são essenciais e triunfar sobre eles nos fazem mais fortes e preparados para as alegrias vindouras. Queime essas ilusões e faça de si a metamorfose ambulante. Se torne aquela que será conhecida pela competência e pela persistência. Que sua alma seja tocada pela beleza e energia daquilo que você acredita. E continue acreditando. Não sinta-se sozinha. Mas não se finja. Não se esconda. Não crie barreiras e muros impossíveis de serem quebrados e revelados. Seja você.
               Aprendi e experimentei por meio de conversas e experiências alheias uma estrada calma e sutil de peregrinar. Eu me permito viajar diariamente pelos mais remotos ares do mundo. Por vezes, me exalto em desejar ir além do mar e da nossa protetora atmosfera. Num circuito veloz e as escuras eu fecho os olhos e suspiro. Eu consigo ser uma feliz mortal com os dias contados!