domingo, 7 de fevereiro de 2016

FUGA





Estes dias empoeirados que nós conhecemos sumirão com este novo sol
Mumford & Sons 


Não adianta fugir. Tu correrás mas ela vai chegar. E você vai parar, pensar e se perguntar: Oh, Pai! Por quê? - e não aceitará. Mentirá para si enquanto caminha velozmente. Olhará para trás ainda criando palavras para dizer adeus. Escreverá canções e fitará o horizonte sem nenhum fundamento. Se esconderá aos arredores da cidade e lá evitará se lembrar daquela música ou daquela situação. Dirá aos amigos que é loucura e que andam vendo coisas demais. Se olhará no espelho e então, depois de muito tempo, terá coragem de se analisar calmamente. Contudo, dessa vez não conseguirá se enganar: como não pude perceber? Eu sou mesmo tudo isso!
               Estará se sentindo tão bem quanto a filhotes que se dispersam dos pais a brincar. Alguém virá em sua cabeça e ela logo você vai chacoalhar, tentando assim, quem sabe, dissipar. Achará graça do que está sentindo, pois agora, parece estar alguns anos mais novo e como num retrocesso do tempo, sente-se um vigoroso adolescente. Até gostará disso! Porquê sim, você achou o fim do caminho no qual adentrara curiosamente e, se surpreenderá com o presente que o aguardava. Vai supor que não seja certo e evitará a todo custo numa tentativa de diminuir os riscos que isso faz para si.
               Talvez se arrisque a escrever. Desenhar. Imaginar... E você que nunca aprovou as frases clichês, cantarolará umas por aí. E andará tão disperso! Ah, se isso você também conseguisse imaginar! Deixará muitas coisas cair e se condenará por pensar que fizera aquilo muito mal. Que errou, falhou gravemente. Decidirá que não mais por isso vai passar, que aprendeu com o que tinha de dar. Vida nova! E de repente, analisará: o que é que estou fazendo? E essas setas que seguem em sua direção? O que isto se parece?
               Sim, se sentirá sozinho e desolado. Mas acalme-se, ainda estará bem. Amará as manhãs e enxergará a beleza de cada episódio da existência. Resguardará a vida para que não peque. Se sentirá cansado e desanimado mesmo quando numa roda de amigos você tenha que esconder o semblante. Não será capaz de mentir e se preparará para um dia declamar. Contudo, pacientemente antes, se questionará se algum efeito terá. Concluindo que não, desistirá. Apazigua esta alma, pois ainda não terá chegado ao fim.
               Transcreverás os distúrbios e transtornos que ainda, infelizmente, enfrentará. Antes isso fosse muitas flores e uma árvore densa que pudéssemos repousar. Antes isso fosse uma dança solitária. Um balé amargo. Trajado às escuras, coreografado em piso liso e amplo. Num passo incerto, cairíamos sozinhos. Se lá, as poças de água e as goteiras nos fizessem sangrar, ainda sim num suspiro poderíamos nos curar. Recostaríamos a fronte diante um campo florido e nos recarregaríamos da energia que fosse necessária. Adormeceríamos anos e mais anos, e acordaríamos quando tudo isso já estivesse findado. Seria adorável, entretanto não é.
               E sabe o pior? Nos olharão com pena e mágoa, porque pensarão que somos os maiores responsáveis pelas dores que sentimos. E não compreenderão. E julgarão. E você a culpará e talvez até a maldiga. Entretanto, verás que muito de mal gosto machucou a quem menos poderia machucar. E certamente dirá que se pudesse no tempo voltar, muito teria mudado.
               Olhe, não adianta fugir. Cogita estar despreparado, mas qual aquele que aprontado fica para a visita que nunca recebera e que nem conhecedor era do fato da vinda? Você ainda não sabe o tamanho da sua sorte. Nem da gratidão que deve ter. Nem sabe do fogo que o consome. Pois então não fuja, dobre o joelho e renda-se. Nesta altura da corrida, o tom do cântico está alto demais para que o alcance e, por si só, logo essa composição toma rumo em uma harmonia. Mas não deixe, não deixe mesmo, de sentir a paixão!  


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