terça-feira, 10 de abril de 2018
Se não depois, quando? *
Blossoming Almond Tree - Van gogh |
Acho que os amores são diferentes. Pensei
nisso ontem à tarde com aquele vento todo chiando nos meus ouvidos. O céu
estava cinza e eu gosto disso. Reconheci que, quando se é jovem, amar é algo em
si, só para si, rebelde e rápido. Daí pensei naquele casal de 50 anos e reparei
que o amor deles é anômalo. Ou talvez, eu que não seja comum. Eu sequer entendo
a lógica da limonada rosa. Eu sequer entendo cálculo.
Em seguida, reparei, bem de perto, os pelos
do braço daquele senhor sentado na minha frente. Não me importava seu passado.
Não desejava saber sobre quem ele de fato era. Mas os pelos do seu braço me
diziam muito. E diziam que ele tinha alguém. E que ‘esses alguéns’ viviam esse
amor inusitado que eu atentei existir fora do século púbere.
Interroguei também que, se não se é jovem, é
o quê? Há inocência aos 35? Que paixão se vive aos 40? Você ama na
adolescência? Por que os pelos do braço de alguém me diziam tanto?
Aí veio você. De novo. Na mente. Numa
lembrança. Fosca. Desbotada. Chacoalhei a cabeça. Então você se foi.
Aquele senhor observou que eu o olhava. Me
senti crua. Como uma maçã recém cortada por uma faca muito, muito, afiada. Não
havia culpa. Seus braços quiseram me revelar segredos e, eu empática, os ouvi.
Ele era a verdade. Eu a farsa.
Não deixo de supor que, quando eu crescer, de
verdade, o amor vai me ser diferente. Eu os darei finalidades diversas e, por
isso, não será algo em mim e só para mim. E de repente, muitas pessoas estarão
envolvidas numa trama só. E isso indicará que eu achei o sentido da coisa toda.
Mas isso é daqui muito, muito tempo. Ou
quando eu menos esperar.
terça-feira, 20 de março de 2018
Um novo projeto que deu certo: eu e a Tribuna Popular
No dia 16 de Fevereiro de 2018, na Edição nº 1942 do jornal impresso Tribuna Popular, na cidade de Cacoal -RO, foi publicado no espaço Cantinho Literário meu texto "Tempo". Desde então, já completando 6 semanas de contribuição, tenho enviado semanalmente algum ensaio que vai ao público às sextas. Este é um novo projeto que deu certo. E tenho estado orgulhosa e feliz por tudo isso. Além da novidade, convido os leitores do blog a lerem também o jornal.
♥♥♥
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
On Ne Vit Qu'une Fois
Art by: Pascal Campion |
Há séculos não escrevo. Nada
poético. Há séculos. E há tempos, decidi que, quando escrevesse, não seria como
os outros: sobre alguma tragédia que ocorrera e, ainda com olhos inchados e
vermelhos, eu decidisse desabafar. Advém dizer que, esta não é uma versão nova
e diferente de qualquer outra prosa poética – meus olhos cansados, na madrugada
fria, coberta de emoções, lágrimas, vontades inertes, reviravoltas, repulsa,
muita repulsa, decisões, determinações, cheias de ‘nunca, jamais, há eu de
permitir que essas más sortes me aconteçam de novo e de novo e de novo’ – cá estou
eu.
Dessa vez, no entanto, terei de
nomear personagens reais e dizer, calculadamente cada parte que me dói e arde de
tristeza.
G.., ah, G., você estava no
caminho certo, sabe? E foi se perdendo, se desviando, achando que estava se encontrando
e foi, passo a passo, se perdendo mais e mais e mais em buracos negros de si (não foi
assim que você me disse?) que poderiam simplesmente cicatrizar e deixar lembranças
minúsculas. Quando tudo aconteceu, na primeira vez, eu sentia, eu sabia, que você
estava se curando e deixando de lado as carências e parando de praguejar que a
vida lhe devia muito e seu pai lhe devia muito e sua mãe lhe devia muito e sua
avó lhe devia e todos lhe deviam muito e a M. lhe devia e que eu, em tão
pouco tempo, lhe devia ter adivinhado sua natureza paradoxa e simplesmente ter
me afastado antes de ter me achegado.
G., eu jurava, e pagava para
ver (pedalando quilômetros só para te encontrar, dia a dia), que você estava
tão próximo de um futuro pacífico (paz não foi o que você sempre quis?), promissor
e certo. Você me tinha, tinha Ele e tinha a todos e, repito, estava tão próximo
de si mesmo que jurei que estava indo bem, muito bem.
Quando você se foi na primeira vez,
ah! G., eu acreditei friamente que você continuaria bem, indo bem (digo) já
que, o processo de recuperação é de fato lento e gradual. G., G., eu
adorava repetir seu nome para mim e, confesso, vai demorar muito (só Deus sabe)
para desacostumar a te querer por perto quando eu ainda, infelizmente, lembrar dele.
E ainda, sobre esse passado totalmente secreto no hiato infinito entre a
chegada, a partida e o regresso, digo que... ah, G., eu pensei que você
estava indo bem, mas, só Deus sabe o que te aconteceu (se aconteceu)!!!
Ontem, G., ontem foi amargo. A
palavra vazia/vazio em tempo algum terá o mesmo significado para mim. Jamais irei
ver qualquer que seja das solidões da mesma forma e, ademais, jamais pensarei
que alguém que conhecemos há anos poderia, ainda que vazia, tomar tanto, tanto,
tanto espaço. E mesmo que dessa vez (eu tenho minha vez, não é?!) fui eu quem
não respondeu ao último tchau, foi exclusivamente você quem decidiu, mais uma
vez - de tantas vezes-, partir. A diferença é que, daqui em diante, só nos veremos
de novo se, onde quer que seja onde os mortos com alma for (aqueles que têm, ora!), pudermos nos encontrar...
G., nunca mais volte para a
vida de ninguém se, de verdade, souber que vai partir. Jamais, jamais, dê aos
outros, projetos, hologramas de um ente que não seja o seu. Esqueça, de vez, a
possibilidade de ser a completude de alguém quando for você a pedra de tropeço
de si mesmo. G., suma e morra, sem deixar vestígios a quem quer que seja que
você irá magoar e ferir e deturpar e fender e rasgar e lacerar e marcar, com
força.
Não seja G., não seja. Ser puramente
em ti é negativar qualquer pontiaguda força e alegria. Não seja G.! E por fim,
saiba que palavras jogadas doem, palavras escondidas e fatos necessários, aniquilam.
domingo, 23 de julho de 2017
(PROGRESSO)
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Te ver tão longe e tão bem me
doeu no começo, confesso. Além do mais, eu tivera sentido um assombro pelos
amores passados e por ter decidido dizer-lhes adeus. Quis correr, quis até
dizer o que eu não diria em sã consciência.
⏸⏮
Te ver tão longe e tão bem me
rasgou no começo, confesso. Mas sentir indiferença por ti me ressuscitou. Até
porque não há amor que cure as dores do que se sofreu sem motivo, ou melhor,
injustamente. E das tantas vezes que as lembranças tomaram meu tempo reanimando
os momentos de nós dois, poucas foram as que o frio da barriga não me dominou,
que não me assustei e me amedrontei. Foi melhor assim...
⏸⏮
Te ver tão longe e tão bem me
feriu no começo, confesso. No entanto, tudo é um processo e eu já não culpo
mais ninguém. Não crio problemas invisíveis, não permito neuras casuais. Não
ando cabisbaixa, não tenho sonhado com você, não tenho sofrido tanto. São
ciclos de dores e curas.
⏸⏮
Te ver tão longe e tão bem me
atormentava no começo, confesso. Aí fui sendo mais eu e entendendo a importância
de amar-se antes de amar o outro, de completar-se de si, de transbordar-se, de
ser sem temer, de ser por ser. Você
tornou-se integrante dos outros e percebi que não, você não era o escolhido.
Foi experiência, vento, tempestade.
⏸⏮
Te ver tão longe e tão bem
começou fazer-me invencível. Quis te ver o melhor possível, te ver sem te
querer. Foi me fazendo bem ver-te longe. Um bem danado.
⏸⏮
Te ver tão longe e tão bem deixou
de fazer sentido e à partir daí, te ver ou não tornou-se indiferente e, por fim,
você foi sumindo, sumindo e tornou-se memória.
⏸⏮
Te ver tão longe e tão bem...
Tanto faz. Você deixou de ser... O tempo é a própria cicatrização.
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