sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

On Ne Vit Qu'une Fois

Encontrar paz no meio do caos. É isso que o talentoso ilustrador Pascal Campion, do qual acabo de virar fã, faz. Pascal é um ilustrador e animador franco-americano que estudou ilustração narrativa …
Art by: Pascal Campion


Há séculos não escrevo. Nada poético. Há séculos. E há tempos, decidi que, quando escrevesse, não seria como os outros: sobre alguma tragédia que ocorrera e, ainda com olhos inchados e vermelhos, eu decidisse desabafar. Advém dizer que, esta não é uma versão nova e diferente de qualquer outra prosa poética – meus olhos cansados, na madrugada fria, coberta de emoções, lágrimas, vontades inertes, reviravoltas, repulsa, muita repulsa, decisões, determinações, cheias de ‘nunca, jamais, há eu de permitir que essas más sortes me aconteçam de novo e de novo e de novo’ – cá estou eu.
Dessa vez, no entanto, terei de nomear personagens reais e dizer, calculadamente cada parte que me dói e arde de tristeza.
G.., ah, G., você estava no caminho certo, sabe? E foi se perdendo, se desviando, achando que estava se encontrando e foi, passo a passo, se perdendo mais e mais e mais em buracos negros de si (não foi assim que você me disse?) que poderiam simplesmente cicatrizar e deixar lembranças minúsculas. Quando tudo aconteceu, na primeira vez, eu sentia, eu sabia, que você estava se curando e deixando de lado as carências e parando de praguejar que a vida lhe devia muito e seu pai lhe devia muito e sua mãe lhe devia muito e sua avó lhe devia e todos lhe deviam muito e a M. lhe devia e que eu, em tão pouco tempo, lhe devia ter adivinhado sua natureza paradoxa e simplesmente ter me afastado antes de ter me achegado.
G., eu jurava, e pagava para ver (pedalando quilômetros só para te encontrar, dia a dia), que você estava tão próximo de um futuro pacífico (paz não foi o que você sempre quis?), promissor e certo. Você me tinha, tinha Ele e tinha a todos e, repito, estava tão próximo de si mesmo que jurei que estava indo bem, muito bem.
Quando você se foi na primeira vez, ah! G., eu acreditei friamente que você continuaria bem, indo bem (digo) já que, o processo de recuperação é de fato lento e gradual. G., G., eu adorava repetir seu nome para mim e, confesso, vai demorar muito (só Deus sabe) para desacostumar a te querer por perto quando eu ainda, infelizmente, lembrar dele. E ainda, sobre esse passado totalmente secreto no hiato infinito entre a chegada, a partida e o regresso, digo que... ah, G., eu pensei que você estava indo bem, mas, só Deus sabe o que te aconteceu (se aconteceu)!!!
Ontem, G., ontem foi amargo. A palavra vazia/vazio em tempo algum terá o mesmo significado para mim. Jamais irei ver qualquer que seja das solidões da mesma forma e, ademais, jamais pensarei que alguém que conhecemos há anos poderia, ainda que vazia, tomar tanto, tanto, tanto espaço. E mesmo que dessa vez (eu tenho minha vez, não é?!) fui eu quem não respondeu ao último tchau, foi exclusivamente você quem decidiu, mais uma vez - de tantas vezes-, partir. A diferença é que, daqui em diante, só nos veremos de novo se, onde quer que seja onde os mortos com alma for (aqueles que têm, ora!), pudermos nos encontrar...
G., nunca mais volte para a vida de ninguém se, de verdade, souber que vai partir. Jamais, jamais, dê aos outros, projetos, hologramas de um ente que não seja o seu. Esqueça, de vez, a possibilidade de ser a completude de alguém quando for você a pedra de tropeço de si mesmo. G., suma e morra, sem deixar vestígios a quem quer que seja que você irá magoar e ferir e deturpar e fender e rasgar e lacerar e marcar, com força.
Não seja G., não seja. Ser puramente em ti é negativar qualquer pontiaguda força e alegria. Não seja G.! E por fim, saiba que palavras jogadas doem, palavras escondidas e fatos necessários, aniquilam.

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