On Ne Vit Qu'une Fois
Art by: Pascal Campion |
Há séculos não escrevo. Nada
poético. Há séculos. E há tempos, decidi que, quando escrevesse, não seria como
os outros: sobre alguma tragédia que ocorrera e, ainda com olhos inchados e
vermelhos, eu decidisse desabafar. Advém dizer que, esta não é uma versão nova
e diferente de qualquer outra prosa poética – meus olhos cansados, na madrugada
fria, coberta de emoções, lágrimas, vontades inertes, reviravoltas, repulsa,
muita repulsa, decisões, determinações, cheias de ‘nunca, jamais, há eu de
permitir que essas más sortes me aconteçam de novo e de novo e de novo’ – cá estou
eu.
Dessa vez, no entanto, terei de
nomear personagens reais e dizer, calculadamente cada parte que me dói e arde de
tristeza.
G.., ah, G., você estava no
caminho certo, sabe? E foi se perdendo, se desviando, achando que estava se encontrando
e foi, passo a passo, se perdendo mais e mais e mais em buracos negros de si (não foi
assim que você me disse?) que poderiam simplesmente cicatrizar e deixar lembranças
minúsculas. Quando tudo aconteceu, na primeira vez, eu sentia, eu sabia, que você
estava se curando e deixando de lado as carências e parando de praguejar que a
vida lhe devia muito e seu pai lhe devia muito e sua mãe lhe devia muito e sua
avó lhe devia e todos lhe deviam muito e a M. lhe devia e que eu, em tão
pouco tempo, lhe devia ter adivinhado sua natureza paradoxa e simplesmente ter
me afastado antes de ter me achegado.
G., eu jurava, e pagava para
ver (pedalando quilômetros só para te encontrar, dia a dia), que você estava
tão próximo de um futuro pacífico (paz não foi o que você sempre quis?), promissor
e certo. Você me tinha, tinha Ele e tinha a todos e, repito, estava tão próximo
de si mesmo que jurei que estava indo bem, muito bem.
Quando você se foi na primeira vez,
ah! G., eu acreditei friamente que você continuaria bem, indo bem (digo) já
que, o processo de recuperação é de fato lento e gradual. G., G., eu
adorava repetir seu nome para mim e, confesso, vai demorar muito (só Deus sabe)
para desacostumar a te querer por perto quando eu ainda, infelizmente, lembrar dele.
E ainda, sobre esse passado totalmente secreto no hiato infinito entre a
chegada, a partida e o regresso, digo que... ah, G., eu pensei que você
estava indo bem, mas, só Deus sabe o que te aconteceu (se aconteceu)!!!
Ontem, G., ontem foi amargo. A
palavra vazia/vazio em tempo algum terá o mesmo significado para mim. Jamais irei
ver qualquer que seja das solidões da mesma forma e, ademais, jamais pensarei
que alguém que conhecemos há anos poderia, ainda que vazia, tomar tanto, tanto,
tanto espaço. E mesmo que dessa vez (eu tenho minha vez, não é?!) fui eu quem
não respondeu ao último tchau, foi exclusivamente você quem decidiu, mais uma
vez - de tantas vezes-, partir. A diferença é que, daqui em diante, só nos veremos
de novo se, onde quer que seja onde os mortos com alma for (aqueles que têm, ora!), pudermos nos encontrar...
G., nunca mais volte para a
vida de ninguém se, de verdade, souber que vai partir. Jamais, jamais, dê aos
outros, projetos, hologramas de um ente que não seja o seu. Esqueça, de vez, a
possibilidade de ser a completude de alguém quando for você a pedra de tropeço
de si mesmo. G., suma e morra, sem deixar vestígios a quem quer que seja que
você irá magoar e ferir e deturpar e fender e rasgar e lacerar e marcar, com
força.
Não seja G., não seja. Ser puramente
em ti é negativar qualquer pontiaguda força e alegria. Não seja G.! E por fim,
saiba que palavras jogadas doem, palavras escondidas e fatos necessários, aniquilam.
0 comentários:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário...