Se não depois, quando? *
Blossoming Almond Tree - Van gogh |
Acho que os amores são diferentes. Pensei
nisso ontem à tarde com aquele vento todo chiando nos meus ouvidos. O céu
estava cinza e eu gosto disso. Reconheci que, quando se é jovem, amar é algo em
si, só para si, rebelde e rápido. Daí pensei naquele casal de 50 anos e reparei
que o amor deles é anômalo. Ou talvez, eu que não seja comum. Eu sequer entendo
a lógica da limonada rosa. Eu sequer entendo cálculo.
Em seguida, reparei, bem de perto, os pelos
do braço daquele senhor sentado na minha frente. Não me importava seu passado.
Não desejava saber sobre quem ele de fato era. Mas os pelos do seu braço me
diziam muito. E diziam que ele tinha alguém. E que ‘esses alguéns’ viviam esse
amor inusitado que eu atentei existir fora do século púbere.
Interroguei também que, se não se é jovem, é
o quê? Há inocência aos 35? Que paixão se vive aos 40? Você ama na
adolescência? Por que os pelos do braço de alguém me diziam tanto?
Aí veio você. De novo. Na mente. Numa
lembrança. Fosca. Desbotada. Chacoalhei a cabeça. Então você se foi.
Aquele senhor observou que eu o olhava. Me
senti crua. Como uma maçã recém cortada por uma faca muito, muito, afiada. Não
havia culpa. Seus braços quiseram me revelar segredos e, eu empática, os ouvi.
Ele era a verdade. Eu a farsa.
Não deixo de supor que, quando eu crescer, de
verdade, o amor vai me ser diferente. Eu os darei finalidades diversas e, por
isso, não será algo em mim e só para mim. E de repente, muitas pessoas estarão
envolvidas numa trama só. E isso indicará que eu achei o sentido da coisa toda.
Mas isso é daqui muito, muito tempo. Ou
quando eu menos esperar.
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