Complicado
O atributo que te atrai no outro
geralmente é aquele que, em você mais agrada ou aquele que você aspira e só encontra
em alguém. É difícil porque na maioria dos casos as pessoas levam uma vida
cheia de máscaras e para cada máscara infeliz há um aspecto imperfeito que
quando encontrado em terceiro nos chamam à atenção. Como explicar, então, que
aquela característica peculiar que nos fazem admirar no outro nada mais é
do que uma sua de quando ninguém vê? Não
que nos identificamos somente com mentiras encontradas em verdades alheias, mas
é mais que certo que o gostar do outro é um processo intrinsecamente ligado ao ego.
E é por isso que qualquer afirmação sobre os opostos, as metades e as almas são
exacerbadamente relativas e singulares.
Sim! São singulares as paixões,
as atrações, os amores e as ilusões. São únicos os sentimentos, as loucuras, as
intenções, os objetivos e as razões. São individuais as ações, os planos, o
gostar, o odiar, o agradar e o desprezar. São especiais os romances, as
tragédias e os dramas. São particulares os prazeres, os sonhos, os desejos e as
volúpias. São inaceitáveis o desprezo e o abandono.
Complicado.
Ou é tudo ou é nada. Ou queremos
uma divindade preparada exclusivamente para nós ou nos aventuramos em terrenos
totalmente desconhecidos na esperança de um relacionamento eterno. Sobre a
esperança, está sendo velada. Dos privilégios, não existem divindades. Amar,
afinal, é essa coisa de si. Amar é antes de tudo uma necessidade egoísta. Isso
porque se ama na intenção da reciprocidade, no desejo de ser amado. Se isso não
é uma insuficiência da alma, então não somos capazes de averiguar nossos
próprios desejos.
Apesar disso, o mundo é um
aglomerado de pessoas tentando sobreviver e nessa tentativa se esforçam para o compreender
de si e dos outros. Ah, o compreender do outro! Isso também é amor. Esse é o
segredo, a chave mestra. Não somos peças de um quebra-cabeça. Somos seres
implorando compreensão. O que buscamos não é o antagônico de nós, muito menos o
equivalente. O que queremos é um pouco de atenção. O que queremos é um tal qual
somos. Se descobrimos alguém tão humano quanto nós, então é aquele que
amaremos. A impressão de que seremos ao menos atendidos de paciência nos leva a
experimentar essas desventuras.
Complicado.
Andam por aí com a cara nas telas
dos computadores e celulares, baixando apps de encontros, aceitando ou
excluindo convites, curtindo e ignorando fotos. Andam falando sobre a
fragilidade das relações e, mesmo passado tanto tempo desde a indagação sobre a
atração, não surgiu na humanidade, no entanto, uma qualidade em específico
chamada paciência. A letra do Iorc sabiamente e poeticamente resumo a história
do mundo em tão poucas palavras: a gente teima, antes temia; já não sabe o que
sabia.
O que é que a gente tem na cabeça?
Deixamos nosso lado mais animal tomar as rédeas em situações em que a razão e a
emoção deveriam ser moderadas. Vamos na pressa de sermos completados e achamos
a completude errada. Não! O destino, o carma, a sina, o desígnio e o fim rodam
os ares da existência. Vai acontecer! Vai! Calma! Presta atenção, então....
↞↠
Vivemos tempos difíceis no amor. Complicado,
complicado!
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